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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ATENA, DEUSA e ARQUÉTIPO DA RAZÃO


Atena é a “filha do Pai”, não teve mãe, nem infância, é o braço direito do pai, sendo assim defensora do Patriarcado. Sua grande ferida é exatamente a perda do contato com a maternidade e vivenciar a sensualidade de modo distante. Ela também é uma deusa virgem, nunca quis ter um companheiro. Ligada ao pensamento, é guerreira, prática, independente, da ação, é ar

gumentadora. Na mulher identificada com esta deusa, percebemos saber, coragem, inteligência, e criatividade. Profissionalmente é bem sucedida, incansável, assume suas responsabilidades e empreendimentos.
A deusa Atena, tão bem representada na modernidade, é encontrada nos escritórios de grandes empresas e em universidades, sempre impecável e formal em sua aparência, sociável e inteligente. É o arquétipo da mulher bem realizada profissionalmente, antenada às questões de seu tempo. Uma mulher regida pela deusa Atena é uma guerreira incansável, sempre em busca de causas nobres para defender e de injustiças sociais para combater.
O mito conta a sua história como tendo nascido da “cabeça” de seu pai Zeus, o deus do Olimpo, o que explica porque Atena é uma deusa intelectual, racional, além de sempre ligada ao pai ou às questões patriarcais de nossa sociedade. Analisando a deusa como um arquétipo feminino, vemos que ela tem por característica a independência e a autonomia.
Além disso Atena é sempre uma companheira fiel e leal. Isso coloca a mulher, às vêzes, numa posição difícil quanto aos relacionamentos afetivos, porque sempre vê, no companheiro, um amigo, um pai ou um colega. O papel de amante lhe é desconfortável. Não sabe vibrar na energia do amor erótico ou maternal, apenas no fraternal. Sua couraça de guerreira parece que a protege dos envolvimentos mais ardorosos e da entrega sensual ou afetiva..
Atena é uma deusa cultuada em toda a Grécia e é a padroeira de Atenas, sua capital, por seu espírito de camaradagem ao lado dos homens, seja nos negócios, na política ou na educação. Por isso é considerada uma deusa da “pólis”, ou seja, urbana e cultural. A mulher-Atena hoje é capaz de ser uma excelente política, organizadora social ou empresarial, administradora ou pesquisadora. Seu espírito de luta a coloca sempre na vanguarda, seja em qualquer área da vida social. Sua competência e agudeza da mente racional lhe confere autoridade e superioridade em todos os assuntos.
Sobre isso, a escritora Jean Shinoda Bolen se refere de uma forma bastante significativa. Ela afirma que esse arquétipo feminino, numa sociedade patriarcal, pode levar a alguns equívocos, como a pensar que uma mulher assim, tão independente, pode ser um “macho de saias”. É preciso compreender que uma mulher-Atena se move não por imitação ou competição com o homem, mas conforme atributos que lhes são peculiares. Por exemplo, ela pensa com clareza e é tão batalhadora não porque esteja imitando o modelo masculino, mas porque este é um atributo peculiar à sua energia específica, aquela que deu origem ao mito da deusa Atena.
Numa época de grandes mudanças culturais na Grécia antiga, o povo grego compreendeu que necessitava do símbolo representado por uma Mãe cultural, em oposição à antiga Mãe natural (Deméter), mais ligada à vida agrária e próxima da natureza. Enquanto Mãe cultural, Atena satisfazia a necessidade de coesão social dos primeiros povos da “polis” (Estado) e dava-lhes consciência de seus deveres morais como Mãe do Estado (metrópolis = mater-polis).
Talvez esse anseio por uma mulher idealizada tenha surgido, para o povo grego, em decorrência do lastimável estado das mulheres na sociedade, após o advento do patriarcado. Em sua maioria eram destinadas ao papel de mães, escravas ou prostitutas, nunca líderes ou intelectuais. A poetisa Safo foi uma exceção a essa norma.
Em nossa época, vemos a emergência desse arquétipo inconsciente em grande número de mulheres, dando origem a manifestações coletivas pela emancipação feminina. Acreditamos que o movimento feminista na década de 70 em todo o mundo tenha sido liderado por mulheres com essas características.
Atena, arquetipicamente falando, é uma “virgem”, no sentido primitivo do termo, que significa uma mulher sem homem. Este termo foi deturpado mais tarde pela interpretação religiosa, que o relacionou à falta de experiência sexual da mulher, mais especificamente, por um detalhe anatômico. A libido de uma mulher-Atena é muito direcionada para a mente, restando à sua sexualidade relativamente pouco interesse ou desembaraço. Por não investir muito na consciência corporal, ela poderá vir a sofrer de uma certa frieza no sexo e de distúrbios ginecológicos, como infecções, tumores ou problemas menstruais. Mesmo assim ela tende a negar e a ver tudo isso como distúrbios puramente orgânicos.
Isso se deve à sua excessiva identificação com o pai (ou aos princípios paternos), desvalorizando a imagem da mãe, com suas questões domésticas e maternais. Aliás, tudo que uma mulher-Atena deseja é não parecer com a mãe. Mas, se por um lado, ela pode vir a ser uma filha zelosa e obediente ao pai, poderá também vir a se insurgir contra ele e tornar-se sua inimiga mortal, caso constate nele a ausência daqueles princípios que tanto preza, como a honra, a dignidade, a lealdade, a sabedoria, a sensatez, etc. Quando uma mulher-Atena não encontra esses atributos em seu pai biológico ou no Pai cultural (governantes, chefes, autoridade), ela se sente traída e pode se transformar numa feroz revolucionária.
A identificação de uma mulher com a energia de Atena pode se transformar num sintoma, caso ela não trabalhe suas emoções e não permita a emergência em si dos outros arquétipos representados pelas outras deusas. Desse modo ela está condenada a voltar sua energia infindavelmente para a cabeça, comprometendo a consciência dos outros aspectos da sua existência. Portanto, aquilo do qual Atena está mais distante - de sua mãe - é do que ela mais precisa. Uma Atena ferida pela falta do amor maternal pode se transformar numa Atena enfurecida, radical e agressiva, como existem tantos testemunhos na história do feminismo.
(Por Mani Alvarez, Psicanalista de orientação transpessoal e co-criadora da Oficina das Deusas)

Fontes: STUM, TEIAS.COM, Blog Caminho da Deusa, Teias.com, RODA DE MULHERES.ORG, Imagem Editada do Google

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